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[MODELO] Invalidação do negócio jurídico – estado de perigo, lesão e onerosidade excessiva

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Dentre os novos mecanismos institu�dos para assegurar os primados da �tica e da boa-f� nos contratos, merecem destaque as figuras do estado de perigo (art. 156), da les�o (art. 157) e ainda a resolu��o do contrato por onerosidade excessiva (art. 878).

O estado de perigo e a les�o foram posicionados pelo legislador do C�digo Civil , na Parte Geral, como v�cios do neg�cio jur�dico, ao lado do erro, do dolo e da coa��o. Ou seja S�o hip�teses de defeito do neg�cio jur�dico, que podem levar � anulabilidade, invalidando o contrato desde a sua celebra��o. J� a regra da onerosidade excessiva foi posta na disciplina dos contratos, como causa de resolu��o, onde o contrato nasce perfeito e v�lido, mas durante a sua execu��o, determinados fatores determinam a sua extin��o. A resolu��o n�o � determinada por v�cio no elemento constitutivo do neg�cio, mas por um motivo exterior ao contrato, que surge posteriormente , dando ao contratante o direito de rescindir o neg�cio jur�dico.

Configura-se o estado de perigo, diz o C�digo, quando algu�m, para salvar a si , a pessoa de sua fam�lia ou a algu�m por quem nutra grande afei��o, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obriga��o excessivamente onerosa. Trata-se de situa��o objetiva, que independe de qualquer subjetivismo. Aqui a v�tima nem errou, nem foi induzida a erro ou coagida, mas viu-se compelida a celebrar um neg�cio que lhe era extremamente desfavor�vel em raz�o de circunst�ncias concretas que viciaram a manifesta��o da vontade. A pessoa que est� em perigo adota conduta, que conscientemente n�o adotaria. Da� porque � ela excludente de responsabilidade contratual. � o caso t�pico de algu�m que teve um parente seq�estrado e vende o seu carro pela metade do pre�o, visando � obten��o de fundos para o pagamento do resgate. Essa compra e venda � anul�vel e quem adquiriu o bem, sabendo da situa��o de perigo do vendedor, ser� obrigado a complementar o pre�o ou a devolver o carro. Anulado o neg�cio, retorna a situa��o ao estado anterior, cabendo a cada uma das partes repor � outra o que desta houver recebido.

J� a les�o ocorre quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperi�ncia, se obriga a presta��o manifestamente desproporcional ao valor da presta��o oposta. Ao contr�rio do estado de perigo, de natureza eminentemente objetiva, na les�o levam-se em conta aspectos subjetivos, como a inexperi�ncia da v�tima. Ou seja, um dos contratantes se aproveita indevidamente da inexperi�ncia ou da absoluta necessidade da parte contr�ria, fazendo com que se chegue a um resultado, que conscientemente a parte n�o desejaria.

O instituto j� estava previsto no C�digo de Defesa do Consumidor, que permite a decreta��o da invalidade de cl�usula que coloque o contratante em desvantagem exagerada, ou que exija vantagem manifestamente excessiva (art. 39, V, e art. 51, IV). Tamb�m � considerado crime contra a economia popular. A lei n� 1.521/51 considera crime contra a economia popular "obter, ou estipular, em qualquer contrato, abusando da premente necessidade, inexperi�ncia ou leviandade de outra parte, lucro patrimonial que exceda o quinto do valor corrente ou justo da presta��o feita ou prometida". (art. 8�, al�nea ‘b’) A grande novidade, advinda a partir da entrada em vigor do novo c�digo Civil, est� na aplicabilidade do instituto para toda e qualquer esp�cie de contrato, inclusive fora da seara consumerista, como nos casos dos contratos banc�rios, de loca��o predial, factoring, planos de sa�de, etc.

A extin��o do contrato por onerosidade excessiva (art. 877), por sua vez, constitui regra nova no C�digo Civil, ainda que presente no CDC. A necessidade de extin��o ou modifica��o do contrato, quando fatos novos e imprevis�veis tornam insuport�vel o contrato para uma das partes, constitui corol�rio l�gico do princ�pio da boa-f�. Diz o C�digo que, nos contratos de execu��o continuada ou diferida, se a presta��o de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordin�rios e imprevis�veis, poder� o devedor pedir a resolu��o do contrato (art. 878). Verdade que a regra j� vinha sendo aplicada pelos ju�zes, com base na cl�usula "rebus sic stantibus" ("enquanto as coisas est�o assim"), especialmente para a revis�o dos contratos para aquisi��o de im�vel destinado � casa pr�pria.

A regra da resolu��o do contrato por onerosidade excessiva se aplica, como "uma luva" aos contratos indexados pela varia��o cambial celebrados antes da maxidesvaloriza��o de 2012. A jurisprud�ncia do Superior Tribunal de Justi�a � iterativa no sentido de que a excessiva varia��o do d�lar seria um fato superveniente e, por esse motivo, autorizaria a revis�o do contrato de leasing.(Vide STJ – RESP 323172-RS, RESP 201808-RS (ESTIPULA��O VARIA��O CAMBIAL – NULIDADE – CL�USULA) STJ – RESP 268661-RJ ) Segundo o Ministro Aldir Passarinho Junior , mesmo que se admita que o contratante sabia que a estabilidade cambial n�o seria eterna, "n�o era esperado um salto t�o imenso, com uma r�pida e crescente desvaloriza��o da moeda nacional frente a outras moedas fortes, a inviabilizar o adimplemento de presta��es antes plenamente suport�veis".

Entretanto, nos casos em que a onerosidade excessiva superveniente n�o puder ser afastada sem grave les�o � outra parte, imp�e-se uma solu��o de eq�idade, conforme pacificado pela Segunda Se��o do Superior Tribunal de Justi�a no julgamento do RESP n� 872.598-SP, em 12/02/2003. Na hip�tese concreta submetida ao STJ, o contrato de leasing indexado pela varia��o cambial, que se pretendia rever, teve origem em outro compromisso firmado pela financeira no exterior, igualmente vinculado � moeda estrangeira. Ou seja, um dos contratantes captou os recursos no exterior e repassou para o outro. Nessas situa��es, entendeu o STJ n�o ser "razo�vel que estando autorizada a arrendadora a contratar pela varia��o cambial e assim acordando o mutu�rio, tenha de arcar com o �nus integral, j� que igualmente v�tima da dr�stica desvaloriza��o do Real. Que h� onerosidade excessiva, sem d�vida ela existe, por�m n�o propriamente da cl�usula em si, que � legal, mas das circunst�ncias que advieram a partir de certo momento, quando em curso a rela��o obrigacional".( Ministro Aldir Passarinho Junior)

No julgamento referido, o Ministro Aldir Passarinho Junior afirmou, ainda, que a probabilidade de mudan�as no c�mbio fazia parte do cen�rio, "mas as partes quiseram, ambas, acreditar que teriam tempo de fazer um bom neg�cio. Cada qual, por isso, tem uma parcela de (ir) responsabilidade pela onerosidade que dele resultou, e nada mais razo�vel que a suportem. Tal � o regime legal, que protege o consumidor da onerosidade excessiva, sem preju�zo das bases do contrato. Se a onerosidade superveniente n�o pode ser afastada sem grave les�o � outra parte, imp�e-se uma solu��o de eq�idade". Finalmente, analisaremos a incid�ncia dos tr�s institutos aos contratos celebrados antes da entrada em vigor do novo C�digo. Os par�metros de aplica��o foram dados pelo art. 2035, segundo o qual os requisitos de validade desses neg�cios ser�o aqueles estabelecidos na lei anterior, mas os seus efeitos , desde que produzidos ap�s a vig�ncia do novo C�digo, a ele estar�o subordinados. Assim, contratos celebrados antes de 11/01/2003, ainda que uma das partes estivesse em estado de perigo ou v�tima de les�o, ser�o v�lidos, ou pelo menos por tais v�cios n�o haver�o de ser anulados. Entretanto, contratos anteriores, que ainda esteja sendo executados, como nos casos de financiamentos a longo prazo, poder�o ser revistos ou resolvidos sempre que , por evento imprevis�vel, ocorrido ap�s 11/01/2003, venham a se tornar excessivamente onerosos para um dos contratantes. Nas repactua��es que venham a ser realizadas ap�s a entrada em vigor do C�digo, aplicam-se integralmente todas as novas regras, posto que compreendidas como novo contrato.

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