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[MODELO] Ação previdenciária de cobrança de valores – INSS

EX­MO. (A) SR. (A) DR. (A) ­JUIZ (A) FE­DE­RAL DA

______________________________________

_____, bra­si­lei­ro, apo­sen­ta­do, por­ta­dor da Cédula de Identidade nº ______, ins­cri­to no CPF sob o nº ___________, re­si­den­te na Rua _______, Comarca de _____ -, por seu ad­vo­ga­do que es­ta subs­cre­ve, vem, mui res­pei­to­sa­men­te, à pre­sen­ça de V. Exa. pa­ra pro­por a pre­sen­te

Ação pre­vi­den­ciá­ria de co­bran­ça de va­lo­res

em fa­ce de o Instituto Nacional de Seguro Social – INSS, Autarquia Federal, com superintendência regional na ci­da­de de São Paulo, com en­de­re­ço na, Rua Xavier de Toledo, nº 280, 13º andar, Centro, São Paulo–SP, CEP: 01048-000, pe­los mo­ti­vos de fa­to e de di­rei­to a se­guir ex­pos­tos.

I – DOS FA­TOS

A au­to­ra é be­ne­fi­ciá­ria do Ins­ti­tu­to-réu des­de 27/3/2012, ins­cri­ta sob o be­ne­fí­cio nº 0077000000588-8 (doc. ane­xo).

Ocorre que o seu be­ne­fí­cio foi con­ce­di­do com da­ta de iní­cio do re­que­ri­men­to fei­to pe­la autora, quan­do le­gal­men­te de­ve­ria ter si­do con­ce­di­do da da­ta do óbi­to de seu fa­le­ci­do ma­ri­do, em vir­tu­de da Lei 000.528/0007 so­men­te atin­gir fa­tos ori­gi­na­dos a par­tir de sua vi­gên­cia.

Não ob­ten­do êxi­to atra­vés de re­que­ri­men­to ad­mi­nis­tra­ti­vo, não res­ta ou­tra al­ter­na­ti­va à autora do que va­ler-se da tu­te­la ju­ris­di­cio­nal.

II – DOS FUN­DA­MEN­TOS

Visando pro­por­cio­nar am­pa­ro aos de­pen­den­tes do se­gu­ra­do da Previdência Social, em ca­so de seu fa­le­ci­men­to, pre­vê a Constituição federal, em seu art. 201, V, a pen­são por mor­te. Tal be­ne­fí­cio foi re­gu­la­men­ta­do ori­gi­na­ria­men­te pe­la Lei nº 8.213/0001, em ­seus ar­ti­gos 74 e se­guin­tes.

Tendo em vis­ta o ca­rá­ter ali­men­tar da pres­ta­ção, o ar­ti­go 74 da lei su­pra­ci­ta­da es­ta­be­le­cia o per­ce­bi­men­to da pen­são por mor­te, por par­te dos de­pen­den­tes, a par­tir da da­ta do óbi­to do se­gu­ra­do.

O dis­po­si­ti­vo le­gal, em re­fe­rên­cia, dis­pu­nha:

Art. 74. A pen­são por mor­te se­rá de­vi­da ao con­jun­to dos de­pen­den­tes do se­gu­ra­do que fa­le­cer, apo­sen­ta­do ou não, a con­tar da da­ta do óbi­to ou da de­ci­são ju­di­cial, no ca­so de mor­te pre­su­mi­da.

No en­tan­to, com as al­te­ra­ções in­tro­du­zi­das pe­la Medida Provisória nº 150006-14, con­ver­ti­da na Lei nº 000528/0007, o be­ne­fí­cio da pen­são por mor­te pas­sou a ser de­vi­do a con­tar do óbi­to do se­gu­ra­do so­men­te quan­do re­que­ri­do até 30 ­dias ­após seu fa­le­ci­men­to.

Dessa for­ma, o ar­ti­go 74 ago­ra es­ta­be­le­ce:

Art. 74. A pen­são por mor­te se­rá de­vi­da ao con­jun­to dos de­pen­den­tes do se­gu­ra­do que fa­le­cer, apo­sen­ta­do ou não, a con­tar ­da da­ta:

I – do óbi­to, quan­do re­que­ri­da até trin­ta ­dias de­pois des­te;

II – do re­que­ri­men­to, quan­do re­que­ri­da ­após o pra­zo pre­vis­to no in­ci­so an­te­rior;

Ill – da de­ci­são ju­di­cial, no ca­so de mor­te pre­su­mi­da.

Por via de con­se­qüên­cia, os de­pen­den­tes que por­ven­tu­ra re­que­re­rem a pen­são por mor­te ­após es­se pra­zo so­men­te fa­rão jus à per­cep­ção do be­ne­fí­cio a par­tir do plei­to, dei­xan­do de per­ce­ber um be­ne­fí­cio que, co­mo se­rá de­mons­tra­do a se­guir, já es­tá in­cor­po­ra­do ao seu pa­tri­mô­nio ju­rí­di­co.

III – DA ­COMPETÊNCIA DA JUS­TI­ÇA FE­DE­RAL

O Instituto Nacional do Seguro Social – ­INSS, ins­ti­tuí­do pe­la Lei nº 802000/0000, a par­tir da fu­são do Instituto de Administração da Previdência Social – IA­PAS com o Instituto Nacional da Previdência Social – ­INPS, é uma en­ti­da­de da Administração Pública federal indireta, cons­ti­tuí­da con­for­me ter­mos ex­pres­sos da lei, sob a for­ma de au­tar­quia.

Os cri­té­rios de­ter­mi­nan­tes do juí­zo com­pe­ten­te pa­ra co­nhe­cer de ques­tões que en­vol­vam in­te­res­ses des­se en­te per­so­na­li­za­do cons­tam do in­ci­so I do art. 10000 da Constituição federal de 100088, in ver­bis:

Art. 10000 – Aos juízes federais com­pe­te pro­ces­sar e jul­gar:

I – as cau­sas em que a União, en­ti­da­de au­tár­qui­ca ou em­pre­sa pú­bli­ca fe­de­ral fo­rem in­te­res­sa­das na con­di­ção de au­to­ras, rés, as­sis­ten­tes ou opo­nen­tes, ex­ce­to as de fa­lên­cia, as de aci­den­tes de tra­ba­lho e as su­jei­tas à Justiça Eleitoral e à do Tra­balho.

No ca­so em te­la, apre­sen­tan­do-se o Instituto Nacional do Seguro Social – ­INSS co­mo réu em uma ­ação que tem por ob­je­ti­vo a jus­ta apli­ca­ção do di­rei­to em ma­té­ria pro­ces­sual-ad­mi­nis­tra­ti­va, res­tan­do afas­ta­das, por­tan­to, as ma­té­rias ex­cep­cio­na­das cons­ti­tu­cio­nal­men­te, ób­via a ca­rac­te­ri­za­ção da com­pe­tên­cia da Justiça Federal.

IV – DO DI­REI­TO

Dentre os di­rei­tos fun­da­men­tais as­se­gu­ra­dos pe­la Constituição da República, ob­ser­va-se em seu art. 6º, ca­put, que são di­rei­tos so­ciais a edu­ca­ção, a saú­de, o tra­ba­lho, o la­zer, a se­gu­ran­ça, a pre­vi­dên­cia so­cial, a pro­te­ção à ma­ter­ni­da­de e à in­fân­cia, a as­sis­tên­cia aos de­sam­pa­ra­dos, na for­ma des­ta Constituição.

A Carta Magna de­li­mi­ta, ain­da, em seu art. 201, a am­pli­tu­de do di­rei­to ao am­pa­ro pre­vi­den­ciá­rio, de­li­nean­do as con­di­ções fun­da­men­tais pa­ra o exer­cí­cio do di­rei­to às pres­ta­ções, es­ta­be­le­cen­do:

Art. 201 – A Previdência Social se­rá or­ga­ni­za­da sob a for­ma de re­gi­me ge­ral, de ca­rá­ter con­tri­bu­ti­vo e de fi­lia­ção obri­ga­tó­ria, ob­ser­va­dos cri­té­rios que pre­ser­vem o equi­lí­brio fi­nan­cei­ro e atua­rial, e aten­de­rá, nos ter­mos da lei, a:

…………………………

V -pen­são por mor­te do se­gu­ra­do, ho­mem ou mu­lher, ao côn­ju­ge ou com­pa­nhei­ro e de­pen­den­tes, ob­ser­va­do o dis­pos­to no § 2º.

Em con­so­nân­cia com o tex­to cons­ti­tu­cio­nal, a Lei nº 8.213/0001 es­ta­be­le­cia ori­gi­na­ria­men­te, em seu art. 74, o ca­bi­men­to da pen­são por mor­te ao con­jun­to dos de­pen­den­tes do se­gu­ra­do que fa­le­cer, apo­sen­ta­do ou não, a con­tar da da­ta do óbi­to, ou da de­ci­são ju­di­cial, no ca­so de mor­te pre­su­mi­da.

Ocorre que a Medida Provisória nº 150006-14, con­ver­ti­da na Lei nº 000.528/0007, al­te­rou o ter­mo ini­cial de per­cep­ção da pen­são por mor­te, dei­xan­do de re­co­nhe­cer aos de­pen­den­tes o di­rei­to de per­ce­be­rem re­fe­ri­do be­ne­fí­cio a par­tir da da­ta do óbi­to do se­gu­ra­do, quan­do re­que­ri­da ­após trin­ta ­dias do fa­le­ci­men­to.

Esta ino­va­ção le­gis­la­ti­va vio­la o or­de­na­men­to ju­rí­di­co vi­gen­te.

A Constituição federal, no art. 5º, ­XXXVI, es­ta­be­le­ce:

Art 5º Todos são ­iguais pe­ran­te a lei, sem dis­tin­ção de qual­quer na­tu­re­za, ga­ran­tin­do-se aos bra­si­lei­ros e aos es­tran­gei­ros re­si­den­tes no ­país a in­vio­la­bi­li­da­de do di­rei­to à vi­da, à li­ber­da­de, à igual­da­de, à se­gu­ran­ça e a pro­prie­da­de, nos se­guin­tes ter­mos:

…………………………

­XXXVI – a lei não pre­ju­di­ca­rá o di­rei­to ad­qui­ri­do, o ato ju­rí­di­co per­fei­to e a coi­sa jul­ga­da.

Com efei­to, a Lei nº 000.528/0007 aca­bou por abar­car si­tua­ções ju­rí­di­cas con­so­li­da­das no tem­po. Os tra­ba­lha­do­res, quan­do se tor­nam se­gu­ra­dos da Pre­vi­dên­cia So­cial, trans­for­mam-se, em de­cor­rên­cia des­se ato – ato-con­di­ção –, que se per­fez e, exau­riu no pas­sa­do, em ti­tu­la­res do di­rei­to às pres­ta­ções pre­vis­tas em lei. Por con­se­qüên­cia, ­seus de­pen­den­tes, igual­men­te, tor­nam-se ti­tu­la­res do di­rei­to à pres­ta­ção – pen­são por mor­te – quan­do o even­to mor­te do se­gu­ra­do ocor­re.

Conforme es­cla­re­ce Celso Antônio Bandeira de Mello:

Os ­atos-con­di­ção con­sis­tem em con­di­ção pa­ra que se de­sen­ca­deie o con­jun­to de di­rei­tos e de­ve­res que per­fa­zem a si­tua­ção ju­rí­di­ca de al­guém. Por ­meio de­les não se ­cria di­rei­to no­vo – ao con­trá­rio do ato sub­je­ti­vo; ape­nas im­ple­men­ta-se o ne­ces­sá­rio a fim de que um qua­dro nor­ma­ti­vo já exis­ten­te pas­se a vi­go­rar em re­la­ção ao su­jei­to ou aos su­jei­tos que ne­le se vêm in­cluir.

Seu al­can­ce ma­te­rial é pre­ci­sa­men­te de um ato ge­ral (ato-re­gra). O ato-con­di­ção não ­cria si­tua­ção sub­je­ti­va: tão-só de­ter­mi­na a in­ci­dên­cia de uma si­tua­ção ge­ral e ob­je­ti­va so­bre al­guém que des­tar­te in­gres­sa em re­gi­me co­mum aos de­mais in­di­ví­duos co­lhi­dos por es­ta si­tua­ção ge­ral. (Ato administrativo e direito dos administrados. São Paulo, Ed. Revista dos Tribunais, 100081, p. 10000)

Feijó Coimbra, por sua vez, en­si­na:

Na re­la­ção de vin­cu­la­ção, su­jei­to é o se­gu­ra­do (pes­soa in­di­ca­da na lei co­mo par­ti­ci­pan­te do rol de in­di­ví­duos vin­cu­la­dos), ao pas­so que o de­pen­den­te, em­bo­ra ve­nha a ser su­jei­to ati­vo da re­la­ção de am­pa­ro, tem seu di­rei­to ori­gi­na­do da vin­cu­la­ção do se­gu­ra­do a que se li­ga por re­la­ção de de­pen­dên­cia. (Direito previdenciário brasileiro. Rio de Janeiro, Editora Edições Trabalhistas, 000ª ed., 10000008, p. 66)

Nesse con­tex­to en­con­tra-se o de­pen­den­te, ou se­ja, aque­le que se en­con­tra li­ga­do ao se­gu­ran­do por uma re­la­ção de de­pen­dên­cia eco­nô­mi­ca. Sujeito ati­vo que é, na re­la­ção ju­rí­di­ca de am­pa­ro, tem seu di­rei­to ori­gi­na­do da vin­cu­la­ção do se­gu­ra­do, do ­qual é de­pen­den­te.

Assim, têm os de­pen­den­tes o di­rei­to de per­ce­be­rem a pen­são por mor­te do se­gu­ra­do a par­tir do óbi­to des­te, uma vez que tal di­rei­to já se en­con­tra em seu pa­tri­mô­nio ju­rí­di­co, não im­por­tan­do o mo­men­to do re­que­ri­men­to. Uma vez ocor­ri­do o fa­to ge­ra­dor da pres­ta­ção – o fa­le­ci­men­to do se­gu­ra­do –, a par­tir de en­tão os de­pen­den­tes têm di­rei­to à per­cep­ção do be­ne­fí­cio.

Feijó Coimbra es­cla­re­ce:

De fa­to, se o di­rei­to à pres­ta­ção ain­da não nas­ceu, por­que ain­da não ocor­ri­do o fa­to que o ge­ra­ria, di­rei­to ain­da não é, nem po­de­ria ex­tin­guir-se. Não é a es­se di­rei­to que se faz men­ção, mas ao de ser se­gu­ra­do e, por con­se­qüên­cia, ser ti­tu­lar do di­rei­to à pres­ta­ção, quan­do ve­ri­fi­ca­do seu fa­to ge­ra­dor. (Op. cit., p. 120)

Ainda:

O de­pen­den­te é su­jei­to da re­la­ção de am­pa­ro, na ­qual sur­ge, co­mo pes­soa in­di­ca­da no tex­to le­gal, le­gí­ti­mo ­ayant-­droit da pre­ten­são. No ca­so da pen­são por mor­te, co­mo no au­xí­lio-re­clu­são, a lei lhe con­fe­re o di­rei­to de pos­tu­lar a pres­ta­ção, cria­da pa­ra ele e não pa­ra o se­gu­ra­do, tan­to que o di­rei­to à pen­são nas­ce, pa­ra o de­pen­den­te, com a mor­te da­que­le de ­quem de­pen­dia, e o au­xí­lio re­clu­são de­cor­re do con­fi­na­men­to do se­gu­ra­do. (Op. cit., p. 68)

Portanto, res­ta evi­den­cia­do di­rei­to da autora, pos­to que o óbi­to de seu ma­ri­do, ocor­reu an­tes da edi­ção da Lei nº 000.528/0007, ao es­ta­be­le­cer que o be­ne­fí­cio de pen­são só é de­vi­do a con­tar do óbi­to se re­que­ri­do den­tro de 30 ­dias do fa­le­ci­men­to.

­V – DECADÊNCIA

A ins­ti­tui­ção de um pra­zo de­ca­den­cial pa­ra o ato de re­vi­são dos cri­té­rios cons­tan­tes do cál­cu­lo da ren­da men­sal ini­cial dos be­ne­fí­cios pre­vi­den­ciá­rios, in­clu­si­ve dos de­cor­ren­tes de aci­den­te de tra­ba­lho, é uma ino­va­ção.

Em con­so­nân­cia com a no­va re­gra, no ca­so de o va­lor da apo­sen­ta­do­ria do se­gu­ra­do ter si­do cal­cu­la­do de for­ma equi­vo­ca­da, ­após o trans­cur­so do pra­zo de 10 ­anos, o er­ro tor­nar-se-ia de­fi­ni­ti­vo.

A in­clu­são do ins­ti­tu­to ci­ta­do foi efe­tua­da pe­la no­na ree­di­ção da Medida Provisória nº 1523, de 27 de ju­nho de 10000007, pos­te­rior­men­te con­ver­ti­da na Lei nº 000.528/0007. Como já de­ci­diu o TRF da 4ª Região:

Uma vez que a al­te­ra­ção in­tro­du­zi­da pe­la Lei nº 000.528/0007 no art. 103 da Lei nº 8.213/0001, crian­do hi­pó­te­se de pra­zo de­ca­den­cial ao di­rei­to de re­vi­são do ato con­ces­só­rio do be­ne­fí­cio, re­ge ins­ti­tu­to de di­rei­to ma­te­rial, so­men­te afe­ta as re­la­ções ju­rí­di­cas cons­ti­tuí­das a par­tir de sua vi­gên­cia, não se apli­can­do a ato ju­rí­di­co con­su­ma­do se­gun­do a lei vi­gen­te ao tem­po da con­ces­são do be­ne­fí­cio. (Emb. Div. em AC nº 0008.04.01.0700050000-2/PR, TRF 4ª R., Rel. juiz Élcio Pinheiro de Castro, 5ª T.)

Portanto, se a cria­ção de um pra­zo de­ca­den­cial, ou se­ja, uma per­da de di­rei­to, so­men­te pas­sou a vi­ger a par­tir da edi­ção da Lei nº 000.528, de 10 de de­zem­bro de 10000007, não há que se apli­car ao ca­so em te­la, vis­to que o fa­to ge­ra­dor do be­ne­fí­cio pen­são por mor­te é o óbi­to do se­gu­ra­do e es­te ocor­reu em da­ta an­te­rior à edi­ção da lei, se­não ve­ja­mos o que en­ten­de o STJ:

PREVIDENCIÁRIO – PEN­SÃO POR MOR­TE – ME­NOR DE­SIG­NA­DO – ­ÓBITO OCOR­RI­DO EM DA­TA AN­TE­RIOR À EDI­ÇÃO DA LEI Nº 000.032/0005 – ­EXISTÊNCIA DE DI­REI­TO AD­QUI­RI­DO.

1 – A Eg. 3ª Seção fir­mou já en­ten­di­men­to no sen­ti­do de que o fa­to ge­ra­dor pa­ra a con­ces­são do be­ne­fí­cio de pen­são por mor­te é o óbi­to do se­gu­ra­do, de­ven­do ser apli­ca­da a lei vi­gen­te à épo­ca de sua ocor­rên­cia (cf. EREsp nº 10000.10003/RN, Rel. min. Jorge Scartezzini, DJ 7/8/2000. 2 – Em se tra­tan­do de se­gu­ra­do fa­le­ci­do em da­ta an­te­rior à edi­ção da Lei nº 000.032/0005, que ex­cluiu o me­nor de­sig­na­do do rol de de­pen­den­tes de se­gu­ra­do da Previdência Social, é de se re­co­nhe­cer o di­rei­to ad­qui­ri­do do be­ne­fi­ciá­rio – ne­to do se­gu­ra­do – à con­ces­são do be­ne­fí­cio de pen­são por mor­te. Precedente. 3 – Inteligência do Enunciado nº 35000 da Súmula do Supremo Tribunal Federal. 4 – Recurso es­pe­cial im­pro­vi­do.

(STJ – 6ª Turma; Resp nº 604.814-SC; Rel. min. Hamilton Carvalhido; j. 26/5/2012; v.u.)

Desta for­ma, não es­ta­ria o pe­di­do da autora abar­ca­do pe­la de­ca­dên­cia, até por­que tra­ta-se de um di­rei­to ad­qui­ri­do, ­pois se in­cor­po­rou ao pa­tri­mô­nio do se­gu­ra­do ou no ca­so o de­pen­den­te, que tem di­rei­to aos va­lo­res não pa­gos da da­ta do óbi­to (________________) até a da­ta do re­que­ri­men­to jun­to à Autarquia (________________), pos­to que não vi­gia ain­da a lei que al­te­ra­va a for­ma de pa­ga­men­to do be­ne­fí­cio pen­são.

VI – DA CON­CES­SÃO DA TU­TE­LA AN­TE­CI­PA­DA

Face ao ex­pos­to nes­ta exor­dial, re­quer a con­ces­são de tu­te­la an­te­ci­pa­tó­ria, sem pré­via oi­ti­va das par­tes, de­ter­mi­nan­do es­se MM. Juízo:

– que o ­INSS con­ce­da o be­ne­fí­cio da pen­são por mor­te, a con­tar da da­ta do óbi­to do se­gu­ra­do, in­de­pen­den­te da da­ta de re­que­ri­men­to por par­te dos ­seus de­pen­den­tes, de acor­do com a re­da­ção ori­gi­nal do art. 74 da Lei nº 8.213/0001, em vir­tu­de do evi­den­te ví­cio de in­cons­ti­tu­cio­na­li­da­de pe­la apli­ca­ção da no­va lei a fa­to pre­té­ri­to.

Justifica-se ple­na­men­te o pro­vi­men­to an­te­ci­pa­tó­rio que ora se re­quer, fa­ce à pre­sen­ça de pro­va ine­quí­vo­ca da ve­ra­ci­da­de dos fa­tos de­du­zi­dos nes­ta ini­cial, e por ha­ver fun­da­do re­ceio de da­no ir­re­pa­rá­vel ou de di­fí­cil re­pa­ra­ção. Quanto ao di­rei­to, a ca­rac­te­ri­za­ção das ile­ga­li­da­des per­pe­tra­das es­tão fo­ra de ques­tio­na­men­to, uma vez pro­va­das de pla­no, con­subs­tan­cia­do, as­sim, o fu­mus bo­ni iu­ris na le­gis­la­ção re­trotrans­cri­ta.

De ­igual ma­nei­ra no que tan­ge ao pe­ri­go da de­mo­ra, já que es­tão os de­pen­den­tes dos se­gu­ra­dos sen­do sub­me­ti­dos a in­jus­to de­tri­men­to do que ­lhes é de­vi­do. Ora, é ma­ni­fes­ta a na­tu­re­za ali­men­tar do

be­ne­fí­cio pre­vi­den­ciá­rio, que re­pre­sen­ta mui­tas ve­zes um mí­ni­mo vi­tal ga­ran­ti­do pe­lo Estado, mos­tran­do-se in­dis­pen­sá­vel à pró­pria so­bre­vi­vên­cia des­ses de­pen­den­tes. É a ur­gên­cia ine­ren­te às de­man­das pre­vi­den­ciá­rias.

É o que se ex­trai do con­ti­do no art. 3º da Lei nº 8.212/0001:

Art. 3º A Previdência Social tem por fim as­se­gu­rar aos ­seus be­ne­fi­ciá­rios ­meios in­dis­pen­sá­veis de ma­nu­ten­ção, por mo­ti­vo de in­ca­pa­ci­da­de, ida­de avan­ça­da, tem­po de ser­vi­ço, de­sem­pre­go in­vo­lun­tá­rio, en­car­gos de fa­mí­lia e re­clu­são ou mor­te da­que­les de ­quem de­pen­diam eco­no­mi­ca­men­te.

Convém lem­brar en­si­na­men­to de Galeno Lacerda:

A an­te­ci­pa­ção pre­ven­ti­va da tu­te­la se jus­ti­fi­ca pe­la re­le­vân­cia dos va­lo­res hu­ma­nos em jo­go. E não há que se ne­gar que, an­te a pe­nú­ria e a ab­so­lu­ta fal­ta de re­cur­sos por que pas­sa o me­nor, por­ta­dor de de­fi­ciên­cia a ne­ces­si­tar de cui­da­dos es­pe­ciais e me­di­ca­ção de al­to cus­to, es­ta­mos fren­te a re­le­van­tes va­lo­res hu­ma­nos: há uma vi­da hu­ma­na em jo­go, há um vi­ver com me­nos so­fri­men­to em dis­cus­são, há um di­rei­to so­cial que de­ve ser res­pei­ta­do. Não há va­lor ­maior que se ale­van­te, se­não o pró­prio ser hu­ma­no em bus­ca de uma exis­tên­cia me­nos so­fri­da e ­mais dig­na. (Comentários ao Código de Processo Civil, vol. ­VIII, tomo II, Ed. Forense, p. 36000)

De ou­tro la­do, o ­INSS e o erá­rio pú­bli­co, e mes­mo to­da a so­cie­da­de, têm me­lho­res con­di­ções de su­por­tar o ­ônus da de­mo­ra do pro­ces­so do que os de­pen­den­tes dos se­gu­ra­dos, atin­gi­dos in­di­vi­dual­men­te. No ca­so, ­mais ade­qua­do é im­por ao de­ve­dor o ­ônus pe­la de­mo­ra do pro­ces­so, atin­gin­do-se, des­sa for­ma, a rá­pi­da sa­tis­fa­ção do di­rei­to re­cla­ma­do, e au­men­tan­do, por con­se­qüên­cia, o pres­tí­gio do po­der ju­ris­di­cio­nal, o que con­tri­bui pa­ra a cons­tru­ção da cul­tu­ra de res­pei­to aos di­rei­tos cons­ti­tu­cio­nais ou le­gais.

Ademais, não há que se fa­lar em pe­ri­go de ir­re­ver­si­bi­li­da­de (art. 273, § 2º, do CPC) aca­so se­jam an­te­ci­pa­dos os efei­tos da pres­ta­ção ju­ris­di­cio­nal, uma vez que, em sen­do jul­ga­da im­pro­ce­den­te a pre­sen­te de­man­da, po­de­rá o réu des­con­tar das par­ce­las vin­cen­das dos be­ne­fí­cios os pa­ga­men­tos rea­li­za­dos em vir­tu­de da an­te­ci­pa­ção, com a re­pe­ti­ção do in­de­vi­da­men­te pa­go.

Bem ob­ser­va o eminente juiz federal Paulo Afonso Brum Vaz, a sin­gu­la­ri­da­de de pro­vi­men­to li­mi­nar em ma­té­ria pre­vi­den­ciá­ria, ar­ti­cu­lan­do:

Os pro­ven­tos pre­vi­den­ciá­rios, to­dos sa­bem, têm real­ça­do ca­rá­ter ali­men­tar, má­xi­me por que, via de re­gra, vi­sam a subs­ti­tuir a ren­da sa­la­rial e aten­der às ne­ces­si­da­des vi­tais do se­gu­ra­do e de sua fa­mí­lia (ali­men­ta­ção, ha­bi­ta­ção, ves­tuá­rio, edu­ca­ção e saú­de).

Não se po­de ne­gar que es­ta na­tu­re­za ali­men­tar da pres­ta­ção bus­ca­da, aco­pla­da à hi­pos­su­fi­ciên­cia do se­gu­ra­do, e até a pos­si­bi­li­da­de de seu óbi­to no cur­so do pro­ces­so, em ra­zão da sen­si­bi­li­da­de ou do pró­prio es­ta­do mór­bi­do, pa­ten­teia um fun­da­do re­ceio de da­no ir­re­pa­rá­vel, ou de di­fí­cil re­pa­ra­ção, re­co­men­dan­do con­ces­são de tu­te­la an­te­ci­pa­da­men­te. (“Antecipação da Tutela em Matéria Previdenciária”, ST 73, jul/0005, p. 24)

Resta, por­tan­to, in­con­tes­tá­vel o re­ceio de que a de­mo­ra no pro­vi­men­to ju­ris­di­cio­nal pos­sa acar­re­tar ­ônus ir­re­pa­rá­vel às pes­soas que ti­ve­ram seu di­rei­to so­ne­ga­do ao re­que­re­rem o be­ne­fí­cio ­após trin­ta ­dias da da­ta do óbi­to do se­gu­ra­do co­mo é o ca­so da autora.

Destarte, faz-se ne­ces­sá­rio o de­fe­ri­men­to da tu­te­la an­te­ci­pa­da, até por­que os be­ne­fí­cios re­pre­sen­tam aos ­seus ti­tu­la­res, na­da ­mais na­da me­nos, con­ti­nuar vi­ven­do, ape­sar do pe­que­no va­lor em que se cons­ti­tuem.

VII – DO PE­DI­DO PRIN­CI­PAL

Diante de to­do o ex­pos­to, re­quer:

a) A ci­ta­ção do Instituto Nacional do Seguro Social – ­INSS, na pes­soa de ­quem o re­pre­sen­te, pa­ra, que­ren­do, con­tes­tar a pre­sen­te ­ação no pra­zo le­gal, sob as ad­ver­tên­cias do art. 285 do Código de Processo Civil.

b) A pro­ce­dên­cia da pre­ten­são de­du­zi­da nes­ta ini­cial, con­fir­man­do-se a tu­te­la an­te­ci­pa­da con­ce­di­da, com o re­co­nhe­ci­men­to da in­cons­ti­tu­cio­na­li­da­de da apli­ca­ção re­troa­ti­va da lei com as al­te­ra­ções in­tro­du­zi­das pe­la Lei nº 000.528/0007 e as contidas no ar­ti­go 74 da Lei nº 8.213/0001, con­de­nan­do o ­INSS a pro­ce­der a con­ces­são do be­ne­fí­cio de pen­são por mor­te à de­pen­den­te do se­gu­ra­do, sen­do de­vi­do, tal be­ne­fí­cio, a con­tar do óbi­to, in­de­pen­den­te­men­te da da­ta do re­que­ri­men­to.

Considerando ser a ques­tão de mé­ri­to uni­ca­men­te de di­rei­to, re­quer o jul­ga­men­to an­te­ci­pa­do da li­de, con­for­me dis­põe o art. 330 do Código de Processo Civil. Sendo ou­tro o en­ten­di­men­to de V. Exa. re­quer a pro­du­ção de to­dos os ­meios de pro­va em di­rei­to ad­mi­ti­dos.

Requer, ou­tros­sim, a re­nún­cia do cré­di­to ex­ce­den­te a 60 sa­lá­rios mí­ni­mos, quan­do da atua­li­za­ção, pa­ra que pos­sa a au­to­ra op­tar pe­lo pa­ga­men­to do sal­do sem o pre­ca­tó­rio, con­for­me re­za o pa­rá­gra­fo 4º do ar­ti­go 17, da Lei 1025000/01.

Requer, por der­ra­dei­ro, que lhe se­ja con­ce­di­da a Assistência Judiciária Gratuita dian­te de sua con­di­ção, e por for­ça da na­tu­re­za da cau­sa, que tem cu­nho ali­men­tar (de­cla­ra­ção de po­bre­za ane­xo).

Dá à cau­sa o va­lor de R$__________________.

N. Termos,

P. E. de­fe­ri­men­to.

_____________, _____/________/ 200__

_________________________________

Adv.

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